segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

quinta-feira, 26 de maio de 2011

A defesa do Bolão

Posso dizer em toda minha trajetória como rábula que a defesa do Bolão foi a causa mais apaixonada em que me meti. Confesso que sem uma causa apaixonada essa vida de homem de lei não faria o menor sentido, até porque sabia de antemão que o Bolão não me pagaria um centavo.

Fui incomodado logo cedo com a eufórica notícia de que o Bolão estava numa fria: acusação de assasinato. Putz!., pensei comigo, esse moleque aloprado só se mete em encrenca. E a verdade nua e crua era essa mesma. Não tem cabimento algum acordar às 06hoo de um sábado para tretar com pessoas que passavam pela rua, mas o Bolão fazia isso. E eu conhecia o gênio louco dele. Não satisfeito em morder os outros, mordia o próprio couro. E quando não permitia o atrevido queria briga, intimava. Vai pro diabo!.

No carro pensava como defendê-lo diante do juiz. Quais seriam as qualidades que diria?., o Bolão não tinha nenhuma. Era porco (na verdade um cachorro-porco, ou melhor, um porco-leitão), destruidor de qualquer coisa que desse pra ele. Eu mesmo, em dias de filantropia, dei a ele alguns cobertores para se proteger do frio. O guengo rasgou os cobertores, tentou, por vezes, até estuprá-los! Era, também morto de fome, e não era qualquer comida!., ração?., que nada, queria arroz, feijão, macarrão, mistura. Não ajudava em nada, alías ajudar ou atrapalhar não tinha o menor sentido moral para o bolão, o importante era participar, ou, numa linguagem mais clara: encher o saco.

Pensei: o Bolão será condenado!., eu tinha competência jurídica suficiente, mas aquele caso era foda. Tudo bem que tinha ganhado alguns casos de grande notoriedade, como aquele que envolvia o direito de um mudo em não dizer nada, ou das loiras em não entender piadas!

O Bolão será condenado a trabalhos forçados, pensei!., se bem que isso não seria nada mau, dada a sua condição de eterno vagabundo. Mas, por outro lado, a vagabundagem do Bolão era coisa de malandro, não era igual ao do Tio que rezava para que o mundo acabasse em barranco para que ele morresse encostado.

No tribunal tomei coragem, comecei dizendo que o Bolão era um filho da puta e que muitas vezes desejei matá-lo, na verdade queria partir sua cabeça, mas do ponto de vista da exegese jurídica subentende-se que ele, provavelmente, morreria.

Olhei para o Bolão e sua cara não era das melhores, aposto que pensava: "porra, chamei o cara pra me defender e, ao invés disso, tá me ferrando, isso não vai ficar assim ... blá, blá, blá."

Falei a verdade (coisa cara para advogado), desabafei!

Suas relações promíscuas com panos, as encrencas, a porquice, as mordidas etc, etc, etc.

Ademais, quantos anos aquele gato tinha? 87!!!!!., porra, esse gato estava fazendo hora-extra no pau de arara.

O juíz concordou! e concordou mais ainda quando deu o verídito.

ESSE CACHORRO É UM CHATO, MAS NÃO É UM ASSASSINO.