quinta-feira, 6 de março de 2014

PROTESTANTES PRESBITERIANOS BRASILEIROS NO SÉCULO XIX: O QUE LIAM EM TERMOS DE ECONOMIA?





ASPECTOS HISTÓRICO-SOCIAIS NO BRASIL DO SÉCULO XIX

O presbiterianismo em terras brasileiras tem seu marco com a chegada de Ashbel Green Simonton no Rio de Janeiro em 1858, um jovem missionário que pretendia implantar o presbiterianismo. Simonton era da missão norte dos Estados Unidos – os boards de Nova Iorque. A partir da década de 1860 chegaram os imigrantes da região sul dos Estados Unidos e alguns anos depois o Comittee de Naschville – junta missionária da igreja sulista. Com a chegada desses missionários estadunidenses muitos se empenharam em estabelecer contato com as elites da cidade de São Paulo que anelavam uma mudança política. A partir desses contatos os protestantes presbiterianos entendem que uma das melhores estratégias era a concentração de forças para o surgimento e o estabelecimento de instituições de ensino. Dessa maneira visavam educar a nova geração de brasileiros para que esta adquirisse uma moral protestante. Daí o surgimento do colégio internacional (1869) e da escola americana (1870).

Nesse período também se observa um constante crescimento industrial e segundo Moniz Bandeira (2007) foram essas novas forças de produção com capital estrangeiro que tornaram o império obsoleto, tal qual o engenho de açúcar movido à força de bois e do trabalho de escravos. Diante desse quadro social: pressão da economia mundial, agitação e fuga em massa de negros é que se deu a abolição da escravatura que ao invés de salvar a monarquia apenas principiou sua queda. A abolição foi o prelúdio da república.

Após a proclamação da república houve forte sentimento nacionalista acompanhado, contraditoriamente, de uma americanização do país. A resposta crítica ao novo modelo político adotado partiu da imprensa e de homens, tais como: Joaquim Nabuco e Eduardo Prado. Este último publicou no final de 1893, num momento propício para a manifestação do sentimento antiamericano o livro A Ilusão Americana, no qual tece uma crítica contundente ao sistema republicano, à cultura e à religião protestante. Segundo ele tanto a religião quanto a cultura estadunidense não se coadunavam com elementos da cultura e da religião brasileira (PRADO, 1893).

A partir dessas evidentes tensões o pequeno grupo de presbiterianos brasileiros articula instrumentos mais eficazes para influenciar as discussões e não limitam suas atividades meramente ao serviço religioso. As propostas tratam sobre a questão econômica do país, sobre educação, sobre aspectos jurídicos da nova constituição republicana etc., e a partir dessas propostas é possível compreendermos a concepção de ordem social no pensamento presbiteriano na época. Por serem questões tratadas na esfera pública era de se esperar que o presbiterianismo brasileiro pusesse a serviço da causa homens preparados que poderiam contribuir para a legitimação desse grupo social.

A LEITURA BÁSICA DE UM PROTESTANTE PRESBITERIANO NO SÉCULO XIX: O OPÚSCULO DO FUTURO DOS POVOS CATÓLICOS: UM ESTUDO DE ECONOMIA SOCIAL

O protestantismo brasileiro em seu início buscou constantemente se legitimar na sociedade brasileira e, por conta disso, as obras produzidas pelos protestantes eram de cunho polemista. Os livros a serem traduzidos também passavam por esse crivo e de tantas obras que poderíamos destacar escolhemos o opúsculo Do futuro dos povos católicos: um estudo de economia social do economista belga Émile Louis Victor de Laveleye por ter ele algumas características importantes: 1) a tradução foi feita pelo presbiteriano Miguel Ferreira Vieira que é listado como um dos republicanos brasileiros históricos; 2) a tese levantada por Laveleye de que era a religião e não a raça a determinante pelo atraso econômico-social dos povos será contestada por alguns teóricos sociais brasileiros no início do século XX nas discussões ideológicas sobre branqueamento da população brasileira; 3) o livro foi amplamente divulgado pelos protestantes e/ou pelos liberais brasileiros que anelavam uma mudança no sistema econômico do país.

A tese do livro de que o não-desenvolvimento das nações católicas tinha uma relação direta com a religião romana agradou tanto os protestantes brasileiros, quanto alguns intelectuais que viam um nexo entre protestantismo e modernidade. Um dos pontos mais importantes na tese de Laveleye tem relação com o método comparativo usado pelo mesmo onde ele analisa diferentes populações católicas e protestantes primeiramente numa mesma região e depois em regiões diferentes, assim expõe como se opera o desenvolvimento dos protestantes em relação aos católicos. Um exemplo interessante disso é a comparação feita entre os protestantes da região suíça de Vaud e os católicos de Lucerna. Segundo Laveleye os primeiros se desenvolviam consideravelmente em várias áreas, tais como indústria, comércio e instrução, e eram latinos, já os católicos de Lucerna não acompanhavam esse desenvolvimento e eram germânicos (LAVELEYE, 1944).

Essas teses foram amplamente divulgadas no Brasil por meio da imprensa, muitos líderes protestantes fizeram comentários sobre o texto, assim como trechos da obra foram disponibilizadas nos jornais. Dentre esses líderes o pastor presbiteriano Eduardo Carlos Pereira compreendeu o ponto nevrálgico do texto e defendeu que a causa de nosso atraso não tinha relação com a raça, antes com a cultura religiosa da maioria do povo brasileiro. A tese de Laveleye perdurou por muito tempo nessa discussão religiosa polarizada no Brasil entre protestantes e católicos e a mesma foi retomada por Pereira na década de 1920 em seu livro O problema religioso da América Latina, no qual levantou polêmica com religiosos católicos da época.

ALGUMAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. Presença dos Estados Unidos no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. 682p.
PRADO, Eduardo. A ilusão americana. São Paulo: Alfa-Ômega, 1893.
LAVELEYE, Emile. Do futuro dos povos católicos. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1944.