quinta-feira, 8 de julho de 2010

Ensaio sobre uma nova teoria do dinheiro

Apenas vou deixar algumas notas que suponho sejam interessantes para uma posterior reflexão dos leitores, visto que estou em sala de aula tratando sobre assuntos pertinentes a esse contexto e muito tenho debatido comigo mesmo e depois com aqueles que aturam conversas filosóficas.

Nessas conversas a questão que julgo interessante mencionar diz respeito ao dinheiro. Pertinente, também, pelas sucessivas propagandas de máquinas de cartão, tais como a Cielo, Redecard etc., as quais mencionam o ultrapassado uso do dinheiro em espécie.

Convém abordar três classes sociais que elucidam esse ensaio: Classe A, Classe C e Classe D.

Para a Classe A o dinheiro em espécie é, sim, uma coisa ultrapassada. O que essa classe concebe como dinheiro está no plano imaterial, ou seja, não é espécie, é um número X na conta bancária. Desse número X, dessa imaterialidade, se concebe a materialidade: é esse número e não o dinheiro que irá comprar carros, casas, pagar viagens etc., a especulação financeira é feita por essa classe. A Classe C, na maioria das vezes, trabalha apenas com a materialidade, ou seja, é o dinheiro em espécie que pagará o produto adquirido. O material adquire o material. Nota-se, porém, um avesso na Classe D, a qual transforma a materialidade em imaterialidade, contudo, essa imaterialidade, diferente da presente na Classe A, é idealizada, ou seja, seu baixo salário em dinheiro espécie não permite que esta adquira a materialidade. Dessa impossibilidade advém a idealização material: a idéia de ter assume um papel importante, o imaginário, o sonho de consumo. Igual as duas classes anteriormente tratadas, a Classe D, deseja, também, coisas que vão além das necessidades básicas do ser humano e que estejam dentro do padrão de ostentação da Classe A e nos planos da Classe C – atingidos pela publicidade e agentes do consumo.

Portanto, a princípio ficamos nesses termos:

A: imaterial – material
C: material – material
D: material - imaterial

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Pensar, pensar - por José Saramago

Acho que na sociedade actual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de refexão, que pode não ter um objectivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objectivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, nao vamos a parte nenhuma.

Revista do Expresso, Portugal (entrevista), 11 de Outubro de 2008
Fonte:

domingo, 13 de junho de 2010

Existencialismo de Tio Bicho – autenticidade e inautenticidade

Revisistanto um texto do período em que estava na universidade, escrito para a disciplina de psicologia, recordei as elucubrações de um filósofo da existência, autodidata por definição e sujeito de pensamento autônomo. Trata-se do personagem Tio Bicho, criado por Érico Veríssimo e presente na trilogia “O tempo e o vento”. Segue um panorama do diálogo entre os personagens Floriano e Tio Bicho, no capítulo “Reunião de Família”, do volume “O arquipélago”.


Floriano acompanhando Tio Bicho numa caminhada noturna, começa a teorizar sobre a existência de dois seres: o bom e o mau. “Bom” é o ser símbolo da retidão de caráter, da austeridade. “Mau” é o sensual, empulhador, safado. O “bom” é enxotado e o “mau” permanece livre e é o que, ao final, acaba virando herói.

Tio Bicho, de alguma maneira, começa a seguir a filosofia de Descartes, questionando a liberdade e fazendo perguntas a Floriano e a si mesmo como reflexão, e não esperando naquele momento uma resposta. Floriano sente-se livre de compromissos políticos e vive tentando convencer-se de que é livre dos preconceitos e atitudes da sociedade burguesa. Ele se comunica apenas tecnicamente com outros seres humanos. Vive um eterno negar-se, esquivar-se.

Mais adiante, ao contar que Santo Tomás de Aquino chorava ao contemplar o mistério do Ser, Tio Bicho afirma que também chora muito e Floriano confessa que foge dessa ideia de enfrentar a vida.

Tio Bicho explica que o homem que tem consciência de sua existência e aceita essa responsabilidade é o ser autêntico. O ser inautêntico é aquele que vive subordinado aos outros, governado pela opinião pública. Tio Bicho explica que amadurecer é aceitar sem alarme nem desespero essas contradições, estas condições de discórdias que nascem do mero fato de estarmos vivos.

Floriano sempre viu no pai, Rodrigo Cambará, o anti-herói. O pai bebia, jogava, fumava e traia sua mãe, Flora, com as empregadas da casa. As atitudes de Rodrigo causavam muito sofrimento em Flora, mas ela herda certo conformismo materno e não considera a possibilidade de que pode mudar as atitudes de Rodrigo.

Isso leva Floriano a decidir não causar desgosto à sua mãe e posiciona-se 'anti-Rodrigo Cambará'. Ele jamais faria o que o pai faz; tudo para compensar as decepções de sua mãe.

Porém, ao mesmo tempo em que sentia essa repulsa contra Rodrigo porque fazia Flora sofrer, Floriano sentia também um fascínio inexplicável pela figura paterna. O perfume do pai causava-lhe sentimentos de aversão e atração. Rodrigo também representava a virilidade masculina reforçada por uma imagem forjada a partir das histórias contadas pelos moradores da região.

Para ilustrar, Floriano conta a Tio Bicho uma experiência que teve na época de escola quando apanhou de um menino e, ao invés de defendê-lo, Rodrigo o fez enfrentar a situação sozinho, além de cobrar dele a honra que perderá na ocasião.

Floriano Cambará foi iniciado sob a chamada “ética do sobrado”. Ética que pregava a estabilidade familiar, a manutenção da moral e dos bons costumes, das regras e princípios religiosos. A Dinda representava com clareza essa postura. Ela foi quem norteou a vida de Floriano e os costumes de sobrado foram responsáveis pelo julgamento severo que Floriano fez por muito tempo sobre as atitudes de seu pai.

A família de Floriano um dia mudou-se para o Rio de Janeiro e a ética do sobrado chocou-se com a nova forma de vida encontrada na cidade. A chamada “ética de Copacabana” pregava a vida fácil, em que dias eram reservados ao desfrute da praia e a noite, aos prazeres e divertimentos. Floriano confundia-se: o que a nova cidade lhe reservava e a vida que outrora aprendeu.

Foi nesse período de transição que a família começou a se desestruturar de fato. A corrupção moral do pai, acentuada com a chegada ao Rio, fraudes políticas e os casos extraconjugais; os irmãos renegando os princípios do sobrado e procurando uma forma de vida nova, não mais baseada na “ética do sobrado”, sem qualquer preocupação com a família. Foi também nesse momento que teve início a diluição do casamento de seus pais.

Por fim, Floriano questiona-se sobre sua verdadeira liberdade. Ele sabe que não tem uma vida autêntica. Não se livrou ainda do cordão umbilical que o prende ao pai, embora use como argumento contra Rodrigo o discurso do sobrado do qual tenta se livrar. Sabe que a liberdade existirá plenamente quando disser tudo o que pensa ao pai. Quando encarar o problema, quando se livrar da sombra que o persegue. Assim tornar-se-á seu próprio pai.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

domingo, 4 de abril de 2010

PRÁTICA DE ENSINO: PHILLIPS 66

Metodologia de ensino

Os métodos empregados em sala de aula procuram organizar o pensamento e as ações em direção ao cumprimento de determinados objetivos. Entre esses objetivos está o desenvolvimento da aprendizagem dos alunos em relação aos temas expostos pelos professores. Os métodos empregados dependem de alguns aspectos ambientais (número de alunos em sala, tempo necessário para realização da atividade, local em que a prática será desenvolvida, recursos materiais) e pedagógicos (objetivo da prática de ensino, nível de fixação do tema, participação do aluno).

Segundo Imídio Giuseppe Nérici (1988, p. 266) o método de ensino “deve ir do estudo dirigido, passar pelo estudo supervisionado, até chegar ao estudo livre”, ou seja, deve levar o aluno a autonomia de pensamento e desenvolvimento de senso crítico. A organização do pensamento e reflexão sobre os temas são processos fundamentais para a aprendizagem.

Os métodos a serem empregados podem ser sistematizados de diferentes maneiras. O estudo em grupo, especificamente o prática Phillips 66, que ainda será discutida neste trabalho, compreende uma prática socializadora, ou seja, que pretende instigar o aluno a auto-reflexão a partir da discussão com outros alunos com visões sócio-econômico-culturais diferentes. Dessa discussão tem-se o consenso sobre o tema discutido. As habilidades requeridas nas práticas em grupo são explicar, questionar, ouvir, responder, sumariar e fechar (GODOY, CUNHA, 1997, p. 85). Uma crítica à prática em grupo é que o aluno perde sua condição e opinião individual pela do grupo.


Phillips 66

A prática de ensino Phillips 66 corresponde a uma metodologia em grupo. Ela tem como característica o próprio número 6, uma vez que os alunos devem ser divididos em grupos de seis para debaterem determinado tema por seis minutos e tem mais seis minutos para apresentar as considerações do grupo.

Também pode ser executada com algumas variações como reunir cinco alunos e determinar como tempo de discussão cinco minutos, ou reunir quatro alunos e executar a prática com base no número quatro. O ideal é que não ultrapasse 10 alunos por grupo. De acordo com Mari-Pepa Vicente Perrota (2000, p. 36), serve para captar em poucos minutos a opinião ide grandes grupos.

Outro aspecto dessa prática é a possibilidade de instigar os alunos a exposição de seus pontos de vista sobre o tema que pode ser discutido a partir do conhecimento adquirido pelo aluno ao longo da vida escolar e social. Isto é, o tema pode ser proposto aos alunos para que discutam quase que livremente, embora exija a organização dos pontos principais da discussão que devem ser exposto por um aluno do grupo.


Referências

GODOY, Arilda Schimidt. CUNHA, Maria Alexandra Veigas Cortez da. IV – Ensino em pequenos grupos. In MOREIRA, Algusto Daniel (org.). Didática do Ensino Superior: técnicas em tendências. São Paulo: Pioneira, 1997.

NÉRICI, Imídio Giuseppe. Didática: uma introdução. São Paulo: Atlas, 1988.

PERROTA, Mari-Pepa Vicente. Novos fundamentos para uma didática crítica. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2000.

MELLO, Rosângela Menta. Metodologia de ensino. 2007. Disponível em: http://estagiocewk.pbwiki.com/OTP. Acessado em: 17 mar. 2010

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Sobre ruídos charmosos ou o fascínio do som cru e cruel

Tirei a terça-feira para ouvir alguns LPs que tenho em casa. Enquanto ouvia os bolachões, finalizei esse texto sobre a paixão que tenho pelos discos de vinil.

Lembro que já andava às voltas com long-plays quando eu ainda era pequena, no tempo em que meu pai cultivava um aparelho toca discos em casa. Na época ouvia com minha irmã músicas infantis de alguns bolachões que tínhamos.

Um dia o aparelho caiu do armário e por falta de onde tocá-los, acabaram ficando guardados por um bom tempo. Nesse ínterim, sempre namorei os discos de vinil do meu padrinho e quando ia à sua casa procurava escutá-los. Felizmente há cerca de dois anos meu pai adquiriu um novo velho aparelho toca discos que executa, quase com perfeição, o papel que lhe é atribuído.

Aproveitei a aquisição do aparelho para matar a curiosidade e escutar alguns bolachões lá de casa, com especial atenção aos discos que meu pai e minha mãe ouviam em outros tempos. Daí minha predileção genética herdada por parte de pai por certos tipos de música que pouco se ouve no rádio.

Mas o que fascina no vinil não é simplesmente a música; é o seu ruído charmoso ou o que o Eduardo costuma chamar de som cru e cruel. Algo notável acontece quando aquela imperceptível agulha circula gentilmente pelas ranhuras propositais do disco. Nessa hora que fique de lado o som remasterizado. Bom mesmo é o prazer de ouvir os pequenos estalidos produzidos pela agulha como se passasse pela areia, o que dá ao LP um som único.

Esse fascínio vicia. Logo que comecei a escutar novamente os LPs comecei também a cultivar minha coleção pessoal. O primeiro disco que comprei custou R$ 20 reais. Não tive dó. Paguei a pequena fortuna pelo álbum “Disque D’or” da Edith Piáf que ostenta uma bela capa, por sinal.

Comprei outros, no entanto, por preços ínfimos como um LP de 10 polegadas de 1959 - álbum “Elês cantam assim” (na época o pronome ainda era acentuado) - por apenas R$ 0,50 e que já achei na internet no valor de R$ 29,90.

Em média compro bons LPs por R$ 2,00 a R$ 10,00. Isso exige paciência e tempo. É entrar no sebo e perder-se junto aos discos até encontrar aquilo que deseja. Exige também um pouco de sorte como no caso do Eduardo que conseguiu arrematar, sem querer, o álbum duplo “Just one night” do Eric Clapton na sua melhor fase. Nesse dia ele também comprou o álbum “Elis & Tom” e me deu de presente.

Abaixo disponibilizo algumas fotos dos bolachões.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Garth Ennis e os temas religiosos

ÀS VOLTAS COM a leitura de um jornal de 1893 e a digitação de um livro de 1938 não sobra muito tempo para ver o mar, já dizia o poeta - no meu caso o rio cachoeira mesmo. Porém nem tudo são farpas nessa vida: já tomei dois litros de água, uns dez copos de café com leite e lavei o rosto umas três vezes. Entre os intervalos peguei uma revista em quadrinho para estorvar esse academicismo barato e resolvi fazer essa pequena postagem sobre Garth Ennis – visto que ele é o roteirista de todas as HQ’s que possuo.

Tenho predileção pelo roteiro de Ennis devido a sua familiaridade com os temas religiosos. Considero que o fato de ter nascido na Irlanda do Norte contribua para isso, visto que Troubled Souls retrata um pouco a rotina de se viver num país em guerra religiosa.

Além dessa história abordando a religião, Ennis fez alguns roteiros para a série Hellblazer e tratou muito bem os conflitos de John Constantine. Também contou a história do assassino de aluguel Hitman que, como se não bastasse os perigos de Gothan, excursiona entre as dimensões: inferno, terra, entende?

Contudo, sua principal obra até a presente data é PREACHER que conta a história de um pregador estadunidense.

Não abordei outros trabalhos de Ennis, somente os quadrinhos com um pano de fundo religioso.
Abaixo você pode conferir algumas HQ’s de Garth

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Saiu da estante em 2009


O ano de 2009 ficou no retrovisor, contudo, gostaria de apresentar alguns livros que saíram de minha estante para uma leitura, na maioria das vezes, descompromissada. Certo mesmo é que me embrenhei em perigos literários que começaram em Feuerbach e desembocaram em Marx. Todavia, essas leituras me ocuparam durante minhas horas-atividade. Também não vou considerar os calhamaços de fotocópias de Adorno, Bourdieu e Habermas que apenas serviram para explicar contextos.

Pois bem:

1. O Coronel e o Lobisomem, de José Cândido de Carvalho.
2. Na pior em Paris e Londres, de George Orwell.
3. Drácula, de Bram Stoker.
4. A feitiçaria na Europa Moderna, de Laura de Mello e Souza.
5. No fim dá certo, de Fernando Sabino.
6. O cão dos Baskervilles, de Conan Doyle.
7. Para viver um grande amor, de Vinicius de Moraes.
8. Eu e outras Poesias, de Augusto dos Anjos.
9. Cheiro de Goiaba, de Gabriel Garcia Márquez.
10. Coleção Melhores Poemas, de Paulo Leminski.

Que 2010 seja, também, cheio desses (des)compromissos.