quinta-feira, 5 de junho de 2014

ENCONTRO INESPERADO




Encontrei com ela no Aeroporto de São José dos Pinhais. Eu estava indo para Brasília e ela para qualquer lugar que tivesse sol. Acho que foi isso que ela disse.

Não prestei bem atenção, pois estava um pouco tenso por causa do voo, embora tenha notado que ela não esperava por ninguém

Ela me trouxe uma grande alegria e me deu seu cartão. Nem eu e nem ela tínhamos cartões cinco anos atrás. No seu estava escrito manager.

Ménage?., está fazendo isso agora?., brinquei já um pouco relaxado.

Você não mudou nada carinha!., disse balançando a cabeça.

Retribui o elogio e nos despedimos.

SJP, 2013
 

quinta-feira, 6 de março de 2014

PROTESTANTES PRESBITERIANOS BRASILEIROS NO SÉCULO XIX: O QUE LIAM EM TERMOS DE ECONOMIA?





ASPECTOS HISTÓRICO-SOCIAIS NO BRASIL DO SÉCULO XIX

O presbiterianismo em terras brasileiras tem seu marco com a chegada de Ashbel Green Simonton no Rio de Janeiro em 1858, um jovem missionário que pretendia implantar o presbiterianismo. Simonton era da missão norte dos Estados Unidos – os boards de Nova Iorque. A partir da década de 1860 chegaram os imigrantes da região sul dos Estados Unidos e alguns anos depois o Comittee de Naschville – junta missionária da igreja sulista. Com a chegada desses missionários estadunidenses muitos se empenharam em estabelecer contato com as elites da cidade de São Paulo que anelavam uma mudança política. A partir desses contatos os protestantes presbiterianos entendem que uma das melhores estratégias era a concentração de forças para o surgimento e o estabelecimento de instituições de ensino. Dessa maneira visavam educar a nova geração de brasileiros para que esta adquirisse uma moral protestante. Daí o surgimento do colégio internacional (1869) e da escola americana (1870).

Nesse período também se observa um constante crescimento industrial e segundo Moniz Bandeira (2007) foram essas novas forças de produção com capital estrangeiro que tornaram o império obsoleto, tal qual o engenho de açúcar movido à força de bois e do trabalho de escravos. Diante desse quadro social: pressão da economia mundial, agitação e fuga em massa de negros é que se deu a abolição da escravatura que ao invés de salvar a monarquia apenas principiou sua queda. A abolição foi o prelúdio da república.

Após a proclamação da república houve forte sentimento nacionalista acompanhado, contraditoriamente, de uma americanização do país. A resposta crítica ao novo modelo político adotado partiu da imprensa e de homens, tais como: Joaquim Nabuco e Eduardo Prado. Este último publicou no final de 1893, num momento propício para a manifestação do sentimento antiamericano o livro A Ilusão Americana, no qual tece uma crítica contundente ao sistema republicano, à cultura e à religião protestante. Segundo ele tanto a religião quanto a cultura estadunidense não se coadunavam com elementos da cultura e da religião brasileira (PRADO, 1893).

A partir dessas evidentes tensões o pequeno grupo de presbiterianos brasileiros articula instrumentos mais eficazes para influenciar as discussões e não limitam suas atividades meramente ao serviço religioso. As propostas tratam sobre a questão econômica do país, sobre educação, sobre aspectos jurídicos da nova constituição republicana etc., e a partir dessas propostas é possível compreendermos a concepção de ordem social no pensamento presbiteriano na época. Por serem questões tratadas na esfera pública era de se esperar que o presbiterianismo brasileiro pusesse a serviço da causa homens preparados que poderiam contribuir para a legitimação desse grupo social.

A LEITURA BÁSICA DE UM PROTESTANTE PRESBITERIANO NO SÉCULO XIX: O OPÚSCULO DO FUTURO DOS POVOS CATÓLICOS: UM ESTUDO DE ECONOMIA SOCIAL

O protestantismo brasileiro em seu início buscou constantemente se legitimar na sociedade brasileira e, por conta disso, as obras produzidas pelos protestantes eram de cunho polemista. Os livros a serem traduzidos também passavam por esse crivo e de tantas obras que poderíamos destacar escolhemos o opúsculo Do futuro dos povos católicos: um estudo de economia social do economista belga Émile Louis Victor de Laveleye por ter ele algumas características importantes: 1) a tradução foi feita pelo presbiteriano Miguel Ferreira Vieira que é listado como um dos republicanos brasileiros históricos; 2) a tese levantada por Laveleye de que era a religião e não a raça a determinante pelo atraso econômico-social dos povos será contestada por alguns teóricos sociais brasileiros no início do século XX nas discussões ideológicas sobre branqueamento da população brasileira; 3) o livro foi amplamente divulgado pelos protestantes e/ou pelos liberais brasileiros que anelavam uma mudança no sistema econômico do país.

A tese do livro de que o não-desenvolvimento das nações católicas tinha uma relação direta com a religião romana agradou tanto os protestantes brasileiros, quanto alguns intelectuais que viam um nexo entre protestantismo e modernidade. Um dos pontos mais importantes na tese de Laveleye tem relação com o método comparativo usado pelo mesmo onde ele analisa diferentes populações católicas e protestantes primeiramente numa mesma região e depois em regiões diferentes, assim expõe como se opera o desenvolvimento dos protestantes em relação aos católicos. Um exemplo interessante disso é a comparação feita entre os protestantes da região suíça de Vaud e os católicos de Lucerna. Segundo Laveleye os primeiros se desenvolviam consideravelmente em várias áreas, tais como indústria, comércio e instrução, e eram latinos, já os católicos de Lucerna não acompanhavam esse desenvolvimento e eram germânicos (LAVELEYE, 1944).

Essas teses foram amplamente divulgadas no Brasil por meio da imprensa, muitos líderes protestantes fizeram comentários sobre o texto, assim como trechos da obra foram disponibilizadas nos jornais. Dentre esses líderes o pastor presbiteriano Eduardo Carlos Pereira compreendeu o ponto nevrálgico do texto e defendeu que a causa de nosso atraso não tinha relação com a raça, antes com a cultura religiosa da maioria do povo brasileiro. A tese de Laveleye perdurou por muito tempo nessa discussão religiosa polarizada no Brasil entre protestantes e católicos e a mesma foi retomada por Pereira na década de 1920 em seu livro O problema religioso da América Latina, no qual levantou polêmica com religiosos católicos da época.

ALGUMAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. Presença dos Estados Unidos no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. 682p.
PRADO, Eduardo. A ilusão americana. São Paulo: Alfa-Ômega, 1893.
LAVELEYE, Emile. Do futuro dos povos católicos. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1944.